O poder oculto dos diretórios partidários e a gênese da corrupção

O poder oculto dos diretórios partidários e a gênese da corrupção

Ricardo Negreiros, reestruturador de empresas, apoiado por filiados e simpatizantes do Partido Novo à pré-candidatura da Presidência da República

Vivemos em um mundo certamente democrático. Pode-se ir e vir, pensar e falar o que quiser, é um estado de direito funcional etc. Mas o nosso cérebro segue no cotidiano à procura de padrões, mesmo em meio à calmaria de um sistema evidentemente livre. Provavelmente, é esse impulso a origem das paranoicas inclinações conspiracionistas, tão expostas pelas redes sociais. 

Mas a desconfiança, um patamar mais básico da paranoia, pode ser algo bom, quando amparada na observação lógica. Por exemplo, qual o problema em haver grupos desejando e lutando por domínio hegemônico? Não existe nenhuma novidade na natureza humana, e na dos demais animais complexos, quanto aos evidentes impulsos por hegemonia. Ao colocarmos mais de uma pessoa numa sala, elas instintivamente procurarão se associar e, dependendo da oportunidade, interesses e talentos, sairão dali dispostas a conquistar o seu espaço no mundo e, muito provavelmente, a subjugar e dominar oponentes. Tribos, reinos e países, e até as corporações, se desenvolveram exatamente assim, em sua luta constante por hegemonia.

Então é possível alegar que está tudo bem no mundo? Sim, mas depende de que lado você está. Não existe quem faça parte de um grupo fechado, elitizado, a famosa “panela”, que queira estar fora dela e de seus benefícios.

Qual o problema, então? O problema é que a ciência da evolução nos ensina que, sem o contraditório, não há aperfeiçoamento das estruturas. Sistemas fechados a críticas, à diferença entre visões, será sempre derrotado por sistemas mais expostos e dinâmicos. Uma criança mais exposta à natureza e a ambientes sociais mais competitivos sempre terá melhor saúde física e mais recursos de sobrevivência. Em minha empresa de reestruturação promovemos a técnica do contraponto, em que sistematicamente solicitamos aos clientes e aos nossos próprios sócios um esforço contínuo para apontar potenciais erros de trajetória nos projetos. É produtivo, e até estimulante, o costume regular de avaliar o contraditório.

Se levarmos a técnica do contraponto para o cenário político teremos, inevitavelmente, o mesmo sucesso. Por exemplo, pesquise em seu partido: como prestam contas do que gastam? Os recursos são gastos de maneira produtiva ao desenvolvimento partidário? Como os membros do seu diretório são escolhidos? Quais os interesses objetivos deles? Como são eleitos?

A verdade é que se você fizer essas perguntas ao seu partido hoje provavelmente será visto como um incômodo. Por quê? Porque muito provavelmente seu partido é liderado por uma casta de desconhecidos do grande público, blindados entre si para manter uma hegemonia.

É aí onde a porca entorta o rabo. Os diretórios nacionais costumam ter ascendência na escolha dos diretórios estaduais e municipais por meio da indicação. Logo, é natural que haja uma reciprocidade desses diretórios na manutenção da posição de quem está nos diretórios nacionais. Neste sistema fechado não há espaço para críticas, nem recomendações de aperfeiçoamento. Pior, sendo os representantes dos diretórios os validadores das listas de candidatos nas eleições, abre-se uma avenida de oportunidades para conchavos políticos. O famoso toma-lá-dá-cá. Os candidatos mais estratégicos são aqueles que trarão dinheiro ao partido, ou, melhor dizendo, dinheiro a quem está no comando do partido. Muito provavelmente, por fora…

Por essa razão temos no Brasil a perpetuação hegemônica dos coronéis e caciques que tratam os partidos como negócios seus, com todas as distorções que lhes forem convenientes, e não agremiações democráticas.

Muito difícil acreditar na melhoria de estruturas assim. Quem apostar no contrário, que apresente o seu contraponto. Quero sempre ouvir.

Disponível em: Diário Comercial

Ricardo Negreiros

adm01@gmail.com

Postado: 01/07/2021

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