Dia do “Fico” em Berizal
“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico”. Essa é a ilustre frase proferida por Dom Pedro I na data que ficou conhecida como Dia do Fico, quando ele recusou a ordem da Corte Portuguesa de deixar o Brasil e voltar à Portugal. Isso ocorreu em 9 de janeiro de 1822 e ficou conhecido como o “Dia do Fico”.
Resguardadas as devidas proporções, foi praticamente o mesmo o que ocorreu em Berizal, no norte de Minas, neste dia 05 de julho de 2021, após o altruísta enfermeiro efetivo, Dailson Dutra, anunciar o seu “fico” em Berizal.
A polêmica se deu após o enfermeiro passar por meses de retaliações, coincidentemente após as eleições municipais de 2020, quando na campanha o profissional não se sentia confortável em declarar apoio ao então gestor e candidato à reeleição. Na época da campanha o prefeito e correligionários por vezes insistiam na declaração pública do apoio.
Mês seguinte às eleições e com o mesmo gestor reeleito, Dailson teve todos os seus benefícios zerados, como: gratificação e ajuda de custo de combustível. Benefícios estes necessários para que o profissional pudesse garantir os atendimentos de pronto socorro e aos munícipes acamados em suas residências.
Apesar da óbvia insatisfação com os cortes, que na prática reduziram seu salário praticamente pela metade, Dailson seguiu lutando e não diminuiu seus atendimentos, nem mesmo dos acamados, fazendo-se valer da profissão 24h por dia e, em muitas das vezes, arcando com recursos próprios para socorrer os enfermos.
Como o enfermeiro não se deixou abalar com a redução de sua composição salarial, seus superiores começaram a lhe imputar mudanças de turnos de trabalho sem justificativa plausível, inclusive tirando-o do turno de maior demanda do PSF em que ele atuava. Além disso, também teriam sido criadas burocracias para restringir-lhe o uso de ambulâncias, mesmo em caso de extrema urgência de um acamado. Fato este último que culminou com uma discursão acalorada entre o coordenador do PSF e o enfermeiro, devido a uma suposta quebra de hierarquia por parte do enfermeiro, que dependeria de autorização para acionamento de ambulâncias.
Essa soma de fatores levaram Dailson a assinar um termo de afastamento por tempo indeterminado, dada sua infelicidade e descontentamento com a conduta de seus superiores para com ele e com a saúde de Berizal. Porém, o anúncio deste afastamento caiu como uma bomba em Berizal e uma mobilização popular formou-se a partir daí e tomou conta das redes sociais dos berizalenses. Até mesmo apoiadores do atual prefeito não titubearam e não se sentiram intimidados em postar nas suas redes sociais o CARD com a foto de Dailson com a rashtag #ficaDailson, o que viraria a maior mobilização social da história do município contra uma injustiça. Sem contar nas inúmeras mensagens de apoio virtual e presencial, aos prantos, recebidas pelo enfermeiro.
A repercussão foi tão catastrófica para a atual gestão, que se viram obrigados a convocar uma reunião com Dailson nesse dia 05 para apagar o incêndio, onde participaram: prefeito, secretário de saúde, secretário de fazenda e finanças e um dos médicos que atende no PSF. Dailson explanou seus sentimentos e, após ouvir um pedido de desculpas do secretário de saúde, colocou todas as suas condições para sua permanência, que até então parecia impossível e, de maneira impressionante, aceitaram todas as condições impostas pelo enfermeiro, sem nenhum questionamento.
Por isso e pela maciça parcela da sociedade que clamou por sua permanência, Dailson voltou atrás de sua decisão e resolveu permanecer no município fazendo o que mais ama: que é cuidar das pessoas.
Porém nem tudo são flores, veremos agora quais serão os próximos passos dos que sorrateiramente desejavam a cabeça do enfermeiro, uma vez que certamente não se darão por vencidos, mas agora sabem bem de que lado está o povo.
Disponível em: Arame Farpado
