Vamos todos mudar, menos eu

Outro dia vi uma charge em que a moral da história era que todos nós desejamos mudanças, mas ninguém quer mudar a si próprio. São poucos os que dão o primeiro passo e fazem aquilo ao seu alcance ou o que realmente contribui para uma sociedade mais justa e sustentável.

Hoje, no portão do prédio onde resido, vi a dificuldade de um catador de lixo para selecionar o resíduo reciclável de interesse dele. Pensei… É tão fácil encontrar apoiadores em defesa da Floresta Amazônica; do Santuário de baleias de Abrolhos; da Reserva Biológica Atol das Rocas no Rio Grande do Norte. É tão comum encontrar seguidores de ONG’s ambientalistas como Greempeace, WWF-Brasil, etc.

O difícil mesmo é ver pessoas fazerem a separação seletiva do lixo dentro de suas próprias casas para, com isso, facilitar a vida dos catadores.É tão fácil hoje ver pessoas indignadas com a desigualdade social e com a miséria vistas do sofá da sala, mas quando se pede uma doação de dez ou vinte reais para ajudar uma causa ou uma pessoa de carne e osso ao seu redor, fica difícil estender a mão: “deixa que algum outro doará”. Como é fácil criticar o sistema capitalista, os bancos e o rentismo; difícil é não perder a oportunidade de emprestar a juros para um familiar ou um amigo.

É fácil indignar-se com o entulho jogado nas proximidades de sua casa, mas é difícil perguntar para o carroceiro (que pegou o seu entulho) onde é que ele vai despejá-lo. É fácil indignar-se com aquele que não lhe dá passagem no trânsito e no dia seguinte é tão difícil pisar no freio de seu veículo para permitir a entrada de outrem. Como é fácil clamar por saúde de qualidade, educação de qualidade, ruas e rodovias bem pavimentadas, etc. Difícil é aceitar o pagamento de impostos e evitar a sonegação e as fraudes para custear esses serviços com qualidade.

É tão fácil emocionar-se com as propagandas da ONG Médico Sem Fronteiras com as crianças desnutridas da África; difícil é se sensibilizar com aquele ao seu redor, com seu vizinho ou conterrâneo, que precisa de um tratamento médico, de um exame, ou de uma cadeira de rodas para melhorar sua qualidade de vida. E assim vamos vivendo: torcendo pela mudança de todos, menos a minha.

Juliana Fidêncio

juliana@ceger.com.br

Postado: 06/11/2019

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